Evento tem objetivo de apresentar propostas ou sugerir metas de ação de desenvolvimento para o município, nas mais diversas áreas 
A 6ª Conferência Municipal da Cidade foi encerrada sábado (2) com críticas à ausência da Administração Municipal dos debates. O evento, realizado a cada três anos, é um grande fórum de discussões entre a sociedade civil e o poder público, com o objetivo de apresentar propostas ou sugerir metas de ação de desenvolvimento para o município, nas mais diversas áreas. A conferência também elege conselheiros que vão representar a cidade na Conferência Estadual, que ocorre no fim do ano, em São Paulo.
Este ano, o diálogo que deveria ocorrer entre sociedade e poder público ficou razoavelmente abalado: apesar de ser um evento criado pela Secretaria de Planejamento, a conferência municipal não contou com a representação de integrantes do primeiro escalão da Prefeitura.
“Esta conferência foi o pior exemplo do total descomprometimento do poder público com ela, pela ausência daquelas pessoas que, politicamente, podem dar respostas e ouvir as demandas que aqui são apresentadas pela sociedade”, disse o vereador Beto Cangussu (PT). “Há que louvar o esforço da equipe técnica da secretaria do Planejamento, que fez das tripas coração para que a conferência pudesse ser realizada, mas queria ver aqui a prefeita [Dárcy Vera/PSD], o vice-prefeito [Marinho Sampaio/PMDB] ou o secretário de Planejamento [Fernando Piccolo], pessoas que podem tomar decisões que os técnicos não podem.”, afirmou.
Desprivatizar
Para o vereador do PT, é preciso que a administração pública seja mais permeável a soluções e projetos que vêm da sociedade. “A prefeitura e a Câmara precisam ser desprivatizadas, porque a impressão que temos é que só os interesses comerciais e empresariais é que têm receptividade nesses espaços. O poder público só ouve um lado”, completou.
Procurada no domingo (3), a administração municipal informou, por meio da Coordenadoria de Comunicação, que não iria comentar as declarações do vereador do PT.
Se o lado da Prefeitura que “politicamente pode dar respostas”, como disse Cangussu, não esteve presente, com a Câmara não foi diferente. O vereador petista foi um dos poucos representantes do Legislativo municipal – com 22 integrantes - que estiveram na Conferência. Outro vereador que também esteve presente foi André Luiz da Silva (PTN). Assim como Cangussu, ele lamentou a ausência de representantes do Legislativo e Executivo, mas disse que a sociedade civil também falhou.
“O que me preocupou na conferência, em especial, foi a baixa presença de vários setores da sociedade organizada. Havia uma boa representação de setores ligados à causa da habitação, mas não consegui perceber a presença de demais setores e isso é preocupante”, afirmou. “Mas, mesmo assim, acho que espaços como os da conferência precisam ser ‘apoderados’ por parte da comunidade, da sociedade civil. O poder público precisa compreender que já está cunhado na lei que ninguém mais administra sozinho. É preciso ouvir”, completou.
Para o engenheiro Cantídio Maganini, que representa o Ferp (Fórum das Entidades de Ribeirão Preto), a ausência de representantes políticos da administração municipal e da própria Câmara foi “frustrante”. “Foi desanimador porque foram apresentadas aqui [durante a palestra da arquiteta Vanessa Bello Figueiredo] várias propostas interessantes, que poderiam ser aproveitadas em Ribeirão Preto. É frustrante perceber que as pessoas que têm a caneta na mão não apareceram por aqui”, completou.
Avanço lento
Apesar das críticas, o arquiteto e urbanista Augusto Valeri acha que o saldo da 6ª Conferência é positivo. “Não concordo que eventos como este sejam frustrantes. A cidade, que não é tão progressista assim, tem políticas de transporte, a mobilidade é bem vista, foi uma das primeiras a implantar rampas de acesso para pessoas com deficiência e agilizou o transporte para a periferia, através do Leva e Traz. São avanços lentos? São, mas valem a pena”, disse.
Valeri destaca, ainda, o que define como o ponto mais importante da conferência deste fim de semana. “O mais importante é a possibilidade de se capacitar a população, sobretudo a de baixa renda, para discutir um tema extremamente complexo que é o urbanismo. Hoje, nesta conferência, o que mais me emociona é que quem mais está aqui são os movimentos sociais. Eles ganham muito com isso e a cidade também”, completou.
Valeri foi coordenador do primeiro Plano Diretor de Ribeirão Preto e também foi gerente de integração das políticas de mobilidade urbana, da Secretaria Nacional de Mobilidade Urbana, do Ministério das Cidades.