A agenda
do golpe no exterior e a repercussão na mídia internacional
Seguindo a tendência das últimas três semanas, a imprensa internacional
abriu um espaço importante para repercutir a farsa encenada no Brasil nos
últimos dias.
A jornalista da CNN,
Christiane Amanpour, entrevistou na
segunda-feira o jornalista Glenn Greenwald (mesmo programa que
realizou entrevista com Celso Amorim há cerca de dez dias). Na
entrevista, o jornalista destacou que, embora a mudança de última hora no
voto de deputados indecisos não tenha sido uma surpresa, o que
surpreendeu negativamente foi a postura dos parlamentares na votação, com
homenagens ao golpe militar e apologia à tortura. Greenwald ainda
ressaltou que ver um político como Cunha, com contas na Suíça pelo
desvios de milhões de reais, presidir a votação do pedido de impeachment
de uma presidenta que não enfrenta denúncias de corrupção foi um dos
fatos mais surreais em sua carreira de jornalista. Explicou ainda o ódio
das elites ao PT e afirmou que a queda da popularidade do governo tem
sido vista por estas elites como a grande chance de se livrar de um
partido que não conseguem derrotar democraticamente nas urnas.
Em editorial intitulado “
Uma tragédia e um escândalo”, o
inglês
The
Guardian destaca uma conjunção de fatores que levaram à crise
no Brasil, o paradoxo da Presidenta sofrer o processo de impeachment sem
não ter nenhuma acusação de corrupção e o temor de que as investigações
da Lava Jato se enfraqueçam (com exceção do fogo cerrado sobre Lula). O
mesmo jornal repercutiu na última terça-feira a coletiva de imprensa da
Presidenta Dilma aos correspondentes internacionais e divulgou as
declarações da Presidenta sobre a
prisão
e a tortura no período da ditadura civil-militar, em resposta à pergunta
de um jornalista sobre a apologia à tortura na votação de domingo.
Em
matéria mais fatual o
Le Monde
narra os eventos e destaca que a Presidenta não enfrenta acusações de
corrupção, ao contrário de Eduardo Cunha. Em artigo no
New York Times, a economista Laura
Carvalho explica as acusações contra a Presidenta e porque se trata
de um golpe parlamentar. O site da
Deutsche
Welle no Brasil
sintetiza a repercussão do golpe nas
revistas e jornais alemães, que mencionaram meios constitucionalmente
questionáveis e até a defesa de torturadores na votação de domingo. Até
mesmo a revista The Economist, famosa por suas críticas às políticas
econômicas do governo Dilma,
ridicularizou a votação no Congresso
e elaborou uma longa lista dos motivos alegados pelos deputados na
votação, destacando que nenhum deles fazia referência às acusações em
questão. O
espanhol El Pais também apontou a
farsa no Congresso e os inúmeros apelos à Deus na justificativa dos
deputados. Em outra matéria, o jornal relembra as acusações contra Cunha
como o “
preço vergonhoso que a oposição aceitou
pagar”.
Ainda no
El
Pais, uma matéria destaca a
preocupação de Macri com a crise política
no Brasil e seu desconforto com a possibilidade de que a adoção de
políticas neoliberais por um eventual governo sem a legitimidade do voto
popular respingue em sua popularidade.
A agenda
do golpe no exterior
Na segunda-feira o senador Aloysio Nunes Ferreira, do PSDB, viajou a
Washington, onde cumpre agenda com autoridades do governo dos Estados
Unidos e com empresários.
A viagem tem sido interpretada como uma
missão de relações públicas de Michel
Temer para tentar reverter a imagem de golpe que tem se firmado no
exterior. Em artigo na revista Fórum, o professor de Política Externa da
PUC-SP, Tomaz Paoliello, analisa a
agenda internacional da vice-Presidência.
Segundo o texto, a viagem busca reagir às declarações do secretário-geral
da OEA e do secretário-geral da Unasul (que se manifestaram sobre a falta
de legitimidade e base jurídica do processo em curso no Brasil) e busca
mobilizar os possíveis parceiros de um eventual governo Temer. O texto
aponta ainda as convergências da agenda de política externa do então
candidato Aécio Neves, derrotada nas urnas em 2014, e o documento “uma
ponte para o futuro do PMDB”.
Com efeito, uma análise do documento peemedebista mostra a defesa de uma
“inserção plena da economia brasileira no comércio internacional”, com ou
sem o Mercosul, e o alinhamento de “nossas normas aos novos padrões
normativos que estão se formando no comércio internacional”, em clara
referência às novas regras de proteção aos investimentos das multinacionais,
à propriedade intelectual e à liberalização do setor de serviços que vêm
sendo promovidas pelos Estados Unidos em acordos como a Parceria
Trans-Pacífica.
Na próxima quinta-feira, a Presidenta Dilma Rousseff deve ir a Nova York
para participar da cerimônia de assinatura do Acordo de Paris (documento
resultante da última conferência sobre mudanças climáticas). Será uma
ocasião importante para dialogar com autoridades de todo o mundo e com a
imprensa internacional sobre o golpe em curso no Brasil.
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