segunda-feira, 8 de junho de 2015

BOLETIM DE CONJUNTURA INTERNACIONAL - PERSEU ABRAMO



ANO 2 - Nº 18 - 01 DE JUNHO DE 2015 
Eleições espanholas
No domingo 24 de maio, houve eleições municipais e regionais (“comunidades autônomas”, equivalentes aos estados brasileiros) na Espanha, país parlamentarista, cujo sistema eleitoral é proporcional e o voto facultativo, com a participação de 49,78% dos eleitores (somente meio ponto percentual acima das eleições anteriores).
A alegada melhora da economia defendida pelo Primeiro Ministro Mariano Rajoy – e principal plataforma de campanha do Partido Popular (PP) para estas eleições – não foi suficiente para convencer os eleitores, que lhe deram 27% dos votos (2,4 milhões a menos que em 2011). Também não mantiveram nenhuma maioria regional, no pior resultado eleitoral dos últimos 25 anos. Isto se deve a muitos eleitores que não sentiram a citada recuperação, a dívida do país continua alta, o desemprego está em 24% e houve um grande número de políticos do PP envolvidos em escândalos de corrupção. Entretanto, nem mesmo esse resultado fez com que o Rajoy mudasse seu discurso de defesa das políticas implementadas, colocando dúvida sobre sua chance de sair vitorioso nas eleições gerais marcadas para 10 de dezembro.
O segundo colocado, o Psoe (Partido Socialista Obrero Español), conquistou 25%, também caindo em relação às eleições passadas (700 mil votos a menos)

Juntos, estes dois partidos se revezaram no comando do país nas últimas três décadas e agora se veem obrigados a dividir espaço com outras forças, algumas conhecidas há mais tempo, outras mais recentes, colocando em questão o bipartidarismo predominante no país. A porcentagem de eleitores destes dois partidos caiu de 65% para 51% em quatro anos e, nesse período, a diferença do PP sobre o Psoe caiu de 2 milhões para 440 mil votos, praticamente anulando a vantagem conquistada nas eleições anteriores.

Um dos partidos considerados vitoriosos foi o Cidadãos (
Ciudadanos, centro-direita), que surge como a terceira força política no país, com 6,55% dos votos.

Outro partido vitorioso foi o Podemos, nova força política antiausteridade, que conquistou o governo de Barcelona com a coligação
Barcelona en Comú, vencendo por apenas 20 mil votos de diferença o líder nacionalista e prefeito Xavier Trias (nacionalista de centro), e ficou em segundo em Madri, onde o PP obteve uma vitória apertada - um assento a mais do que a segunda colocada, a coligação Ahora Madrid, da qual o Podemos faz parte.

Outros resultados: Esquerda Unida teve 4,75%; a coligação nacionalista catalã Convergência e União (CiU, centro-direita) ficou com 3%; e União, Progresso e Democracia (UPyD, centro) obteve 1,03%.

Lideranças do Podemos e do
Ciudadanos disseram que seus partidos estão abertos a alianças, a depender do caso. Pablo Iglesias, líder do Podemos, disse esperar um apoio do Psoe em Madri para sua candidata, Manuela Carmena (31,8% dos votos); com isso, ela poderia assumir a prefeitura dessa cidade e tirar o PP, que está no cargo há 26 anos. O mesmo movimento pode acontecer em Valencia e Sevilha. O PP, por sua vez, ainda poderia tentar o apoio do Ciudadanos para manter o controle do governo regional.

Em Barcelona, a candidata Ada Colau, de
Barcelona en Comú e apoiada pelo Podemos, disse que tentaria formar uma coalizão de governo, ou ao menos acordos para apoiar suas iniciativas políticas, com o Psoe e com os separatistas da Catalunha.
Com relação às comunidades autônomas, o PP está na dependência de uma aliança com o Ciudadanos para conseguir governá-las, ou torcendo para que o PSOE não consiga formar nenhuma coalizão. O problema aqui é que Ciudadanos deixou claro que só fará alianças com partidos que se comprometam com seus próprios “mandamentos anticorrupção”, em que defendem, por exemplo, o fim das doações eleitorais de empresas a partidos, entre outras medidas. Também deixou claro que só fará pactos com o PP caso este se comprometa a adotar primárias para definir suas listas de candidatos, já que é o único partido que ainda não o faz.
Os partidos terão agora até o dia 13 de junho para anunciar as coalizões. Se Psoe, Podemos e independentes conseguirem fazer um pacto para trabalhar juntos, seria uma derrota para o PP em escala nacional. Esse é o cenário que irá influir nas eleições parlamentares nacionais de dezembro.
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* As opiniões aqui expressas são de inteira responsabilidade do seu autor, não representando a visão da FPA ou de seus dirigentes.








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