Eleições
espanholas
No
domingo 24 de maio, houve eleições municipais e regionais
(“comunidades autônomas”, equivalentes aos estados brasileiros)
na Espanha, país parlamentarista, cujo sistema eleitoral é
proporcional e o voto facultativo, com a participação de 49,78% dos
eleitores (somente meio ponto percentual acima das eleições
anteriores).
A
alegada melhora da economia defendida pelo Primeiro Ministro Mariano
Rajoy – e principal plataforma de campanha do Partido Popular (PP)
para estas eleições – não foi suficiente para convencer os
eleitores, que lhe deram 27% dos votos (2,4 milhões a menos que em
2011). Também não mantiveram nenhuma maioria regional, no pior
resultado eleitoral dos últimos 25 anos. Isto se deve a muitos
eleitores que não sentiram a citada recuperação, a dívida do país
continua alta, o desemprego está em 24% e houve um grande número de
políticos do PP envolvidos em escândalos de corrupção.
Entretanto, nem mesmo esse resultado fez com que o Rajoy mudasse seu
discurso de defesa das políticas implementadas, colocando dúvida
sobre sua chance de sair vitorioso nas eleições gerais marcadas
para 10 de dezembro.
O
segundo colocado, o Psoe (Partido
Socialista Obrero Español),
conquistou 25%, também caindo em relação às eleições passadas
(700 mil votos a menos)
Juntos, estes dois partidos se
revezaram no comando do país nas últimas três décadas e agora se
veem obrigados a dividir espaço com outras forças, algumas
conhecidas há mais tempo, outras mais recentes, colocando em questão
o bipartidarismo predominante no país. A porcentagem de eleitores
destes dois partidos caiu de 65% para 51% em quatro anos e, nesse
período, a diferença do PP sobre o Psoe caiu de 2 milhões para 440
mil votos, praticamente anulando a vantagem conquistada nas eleições
anteriores.
Um dos partidos considerados vitoriosos foi o
Cidadãos (Ciudadanos,
centro-direita), que surge como a terceira força política
no país, com 6,55% dos votos.
Outro partido vitorioso foi o
Podemos, nova força política antiausteridade, que conquistou o
governo de Barcelona com a coligação Barcelona
en Comú,
vencendo por apenas 20 mil votos de diferença o líder nacionalista
e prefeito Xavier Trias (nacionalista de centro), e ficou em segundo
em Madri, onde o PP obteve uma vitória apertada - um assento a mais
do que a segunda colocada, a coligação Ahora
Madrid,
da qual o Podemos faz parte.
Outros resultados: Esquerda Unida
teve 4,75%; a coligação nacionalista catalã Convergência e União
(CiU, centro-direita) ficou com 3%; e União, Progresso e Democracia
(UPyD, centro) obteve 1,03%.
Lideranças do Podemos e do
Ciudadanos
disseram que seus partidos estão abertos a alianças, a depender do
caso. Pablo Iglesias, líder do Podemos, disse esperar um apoio do
Psoe em Madri para sua candidata, Manuela Carmena (31,8% dos votos);
com isso, ela poderia assumir a prefeitura dessa cidade e tirar o PP,
que está no cargo há 26 anos. O mesmo movimento pode acontecer em
Valencia e Sevilha. O PP, por sua vez, ainda poderia tentar o apoio
do Ciudadanos
para manter o controle do governo regional.
Em Barcelona, a
candidata Ada Colau, de Barcelona
en Comú
e apoiada pelo Podemos, disse que tentaria formar uma coalizão de
governo, ou ao menos acordos para apoiar suas iniciativas políticas,
com o Psoe e com os separatistas da Catalunha.
Com
relação às comunidades autônomas, o PP está na dependência de
uma aliança com o Ciudadanos
para conseguir governá-las, ou torcendo para que o PSOE não consiga
formar nenhuma coalizão. O problema aqui é que Ciudadanos
deixou claro que só fará alianças com partidos que se comprometam
com seus próprios “mandamentos anticorrupção”, em que
defendem, por exemplo, o fim das doações eleitorais de empresas a
partidos, entre outras medidas. Também deixou claro que só fará
pactos com o PP caso este se comprometa a adotar primárias para
definir suas listas de candidatos, já que é o único partido que
ainda não o faz.
Os
partidos terão agora até o dia 13 de junho para anunciar as
coalizões. Se Psoe, Podemos e independentes conseguirem fazer um
pacto para trabalhar juntos, seria uma derrota para o PP em escala
nacional. Esse é o cenário que irá influir nas eleições
parlamentares nacionais de dezembro.
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