quinta-feira, 1 de agosto de 2013

“Escutar, interpretar e posicionar-se sobre as vozes das ruas”

O entendimento sobre as manifestações de junho em nosso País continuam instigando-nos sobre a sua significação. Quais foram às causas que levaram à mobilização? Qual o perfil dos manifestantes que foram às ruas? Qual a natureza ideológica e ou programática das pautas existentes nas manifestações? As manifestações levarão a um avanço ou a um retrocesso em nossa incipiente democracia? Analisar essas questões pode apontar um caminho.
1º) Ante as práticas da maioria de nossa classe política,e a campanha sistemática dos grandes meios de comunicações em “denegrir a imagem da política e dos políticos”, igualando-os, como se fossem “farinha do mesmo saco”, é natural que as manifestações de junho tivesse como ponto central a rejeição aos políticos e a negação da política. Quem está no governo, foi o alvo principal dos manifestantes.
2º) Ao analisar a média de idade dos manifestantes, poderíamos afirmar que se tratou na maioria de jovens de 20 a 25 anos. Em 2003, quando assumiu o governo do PT, eles tinham de 10 a 15 anos, portanto, não conheceram uma realidade de inflação, juros, dólar e desemprego altos, estagnação econômica, baixos investimentos sociais, ausência de política para a juventude, etc. O bordão das manifestações “o gigante acordou”, além de pretensioso não corresponde à realidade das lutas democráticas desse país nas últimas décadas. O “gigante” (povo) já está nas ruas há muito tempo: na luta contra a ditadura, na luta pelas “Diretas”, na luta pela “constituinte de 88”, no impechament do Collor, na luta pela Reforma Agrária, na Luta pela jornada de 40 horas semanais, dentre outras. Se alguém ‘acordou’, não foi às gerações passadas, foram às novas gerações. Temos, portanto, um problema geracional de entendimento sobre o Brasil Atual e o Brasil do passado pós ditadura militar.
3º) Na pauta das reivindicações da “manifestações de junho”, não vimos cartazes com “Mais Emprego”, “Mais Habitação”, “Abaixo a Inflação”, “Universidade para Todos”, o que vimos foi uma multiplicidade de reivindicações: “Mais Saúde”, Mais Educação”, “Transporte Gratuito”, “Menos Corrupção”, “Abaixo a Rede Globo”, dentre outras.
Em que pese os avanços alcançados na última década, (menor índice de desemprego, 40 milhões de pessoas saíram da pobreza, acesso dos jovens à Universidade, dentre outros), os manifestantes querem mais. É bom que isso tenha ocorrido.
4º) Ante a inexistência de uma oposição partidária com um programa alternativo viável, Os grandes meios de comunicação (a verdadeira oposição existente no Brasil), que num primeiro momento ficara contra os manifestantes, taxando-os de “baderneiros”, vislumbrou a possibilidade de manipular as “manifestações de junho” contra o governo federal, divulgando cenas que mostravam uma rejeição ao PT e ao governo Dilma, quando na verdade a rejeição era contra a política e os políticos em geral, inclusive com forte rejeição à própria Globo. Nesse primeiro momento, a mídia e seus interesses conservadores ganharam a disputa da comunicação. Entretanto, não significa que continuarão ganhando, até porque, passado o impacto e a letargia inicial, tanto o governo federal como as forças progressistas entraram em campo para também “jogar o jogo”, na disputa pelos rumos das “manifestações de junho”.
Em minha opinião, “as manifestações de junho” ajudaram a “chacoalhar” o PT e o governo federal, destravando algumas pautas paralisadas em razão de nossa “governabilidade conservadora”. A disputa está apenas começando.

2 comentários:

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  2. Já fizemos e continuamos a fazer História, nunca estivemos adormecidos porque Democracia se faz com o povo na rua exigindo cobrando, e é lá que sempre estivemos.É um grande equivoco achar que a luta começou agora, estamos nas ruas....Ocupando...Resistindo há muito tempo....
    e é muito bom ver os movimentos acontecendo mesmo que de maneira meio as avessas (Pois não existe democracia sem partidos Políticos, temos que chama-los para discussão não proibi-los)... Precisamos com urgência aumentarmos o grau de politização...pois assim teremos mais gosto em discuti-la e mais amplitude também.
    Vereador Beto excelente texto

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